Avançar para o conteúdo principal

Teoria da técnica de relaxamento: Uma experiência simbólica do ciclo matriarcal.

João Carlos Vaz Furtado[1]


Toda e qualquer atividade humana é símbolo que objetiva a individuação e, como tal, deve partir de um estado primário de desenvolvimento. A técnica de relaxamento cria uma situação que facilita o resgate de tais aspetos primais: (matriarcais - ciclo da humanidade cujo feminino era preponderante na cultura, através do culto a deusa e a natureza por exemplo). Nesta posição a consciência é guiada pela sensualidade, pelo princípio do prazer e da fertilidade. A intensidade e proximidade afetivo-corporal possibilitam que o desenvolvimento decorra, principalmente, através do canto, do lúdico, da fantasia, da imitação, do corpo e dos ‘rituais’ (tradição oral ritualística).

Na técnica de relaxamento, por norma, as pessoas são sugestionados a fecharem os olhos e entrarem num estado de quase sono, rebaixando a consciência, e permitindo que o processo de imaginação se redirecione para os aspetos mais arcaicos do inconsciente. É como um antídoto aos excessos de excitações sensoriais e afetivas de todo tipo (ruídos, publicidade, meios de comunicação, etc…). É como um porto de paz que visa conservar ou reencontrar sua integridade física, mental e moral constantemente ameaçada.

O relaxamento ou a procura de uma certa tranquilidade mental, está inclusive na base de métodos muito antigos, pois o homem sempre aspirou ao repouso e procurou meios para consegui-lo.Todavia, convém lembrar que, em última instância, a eficácia de um método depende de quem o aplica. Muito mais do que nos métodos, é na competência de seu aplicador que se deve confiar.

É importante observar este paradoxo, este mito de Frankenstein tão presente em nossa época, pois ao mesmo tempo que o progresso é considerável, nunca estivemos tão perto de atos monstruosos cometidos pelo mesmo homem, a tal ponto que talvez os benefícios sejam  insignificantes! É provável que tenhamos trocado algumas agressões por outras, é a banalização do mal!

O próprio progresso vem acompanhado de inconvenientes: o automóvel vai mais depressa, mas também pode nos conduzir mais rápido ao hospital ou ao cemitério. A poluição por gasolina é mais repugnante e mais tóxica. A vida parece mais rápida, tudo está ao seu alcance, exceto a profundeza de sua própria pessoa. Somos competentes em tudo, mas não sabemos fazer as coisas mais simples e fáceis, como dormir, relaxar, andar ou fazer nada ...

Portanto, já não se deve só aprender a tensionar-se, a fazer esforço, cuja base arquetípica reside num padrão mais paterno, masculino. É necessário aprender a descontrair-se, a "não mais fazer esforço", mergulhar no seu Ser. Esta é a razão do sucesso e da eficácia dos métodos de descontração que existem atualmente.

No entanto, o stress é uma reação natural a uma estimulação particular. O problema é se o nosso organismo consegue discriminar tais reações, que pode ir desde um barulho inesperado, um clarão luminoso, ou até a aparição de toxinas microbianas no sangue. Será que sabemos distinguir as reações musculares e as reações do sistema nervoso vegetativo?

Nesta última, pode-se reconhecer todo o ‘cortejo’ de doenças que a medicina contemporânea chama de "psicossomáticas" (como se houvesse doenças psíquicas sem distúrbios somáticos ou doenças orgânicas sem distúrbios psicológicos).

A psicanálise conseguiu demonstrar que a angústia e o stress de hoje se estruturam sobre a angústia e o stress de ontem. A primeira estruturação da angústia e do stress ocorreria durante a vida intra uterina e no momento do nascimento, quando acontecem modificações fisiológicas muito importantes (aquisição de movimentos respiratórios amplos e sobretudo alteração do sistema circulatório).

No estado primário do desenvolvimento, de não diferenciação e separação de opostos, supostamente não há conflito, não há stress, é um mergulho no oceano primal da ‘Grande mãe’. A medida que se tem uma atitude reativa, ativa e tensional, como no ato de nascer, respirar e desmamar, é a situação de stress, angústia, tão necessária quanto aquela em que temos de novamente adormecer e relaxar. A unidade do organismo é resultado da dialética dessas polaridades, e tudo o que tende a diminuir a unidade do organismo é para ele uma ameaça de morte e vetor de um stress negativo. Tudo o que tende a proporcionar a unidade do organismo é stress (positivo) que produz uma resposta relaxante, ou seja, a abolição do excesso de defesas.

Assim, muitas das doenças somáticas e psicológicas não se devem especificamente ao agente causador imediato, mas à nossa reação; isto sem excluir o facto de que, como já dissemos, o acúmulo de danos ou mesmo o excesso de excitações inúteis são responsáveis por uma menor estabilidade do nosso organismo; quanto mais stress recebe, mais se torna sensível a ele numa espiral viciosa e vertiginosa. Desde há muito tempo vêm sendo aperfeiçoadas técnicas que tendem a agir de acordo com uma espiral inversa, para reforçar a homeostase do organismo em todos os níveis e torná-lo cada vez mais resistente ao stress. Isto não pode ser feito pela abolição pura e simples das excitações: implicaria em novo stress. Na verdade, a privação sensorial é uma das formas modernas de tortura.

Em uma abordagem inicial, diremos que relaxamento é o que se opõe ao stress, o que reforça a homeostase, o que diminui a angústia e a emotividade, o que proporciona a unificação dos elementos do organismo...

Desse ponto de vista, o primeiro dos métodos de relaxamento poderia ser um simples "retorno à natureza” da Grande Mãe, tal como o tentam algumas comunidades de inspiração espiritualista ou ecológica. É possível até mesmo que o facto de se obter pessoalmente um profundo relaxamento, um profundo acordo consigo mesmo, seja fonte de harmonia para a comunidade.

Foi demonstrado (efeito "Maharishi") que, quando numa cidade mais de 1% dos habitantes praticam regularmente a técnica de relaxamento, diminui a quantidade de fenómenos psicossociais negativos (criminalidade, doenças, acidentes de trânsito). Como também ficou provado numa escola infantil da Periferia de São Paulo, que a utilização de técnicas de relaxamento em sala de aula após o intervalo (pois normalmente voltam muito “agitados”), diminuía consideravelmente o stress de alunos e professor, como aumentava a produtividade escolar.

Portanto, para obter um bom relaxamento é necessário buscar antes uma “tensão” correta do que uma boa descontração (aliás, uma não ocorre sem a outra). Durante os exercícios de relaxamento adota-se uma posição que não exija esforço algum para ser mantida; qualquer contração será então inútil ou nociva.

Relaxar será, de uma maneira ou de outra, aprender a desfazer esses nós da memória (e de antecipação vã) no plano muscular. Descontrair vai permitir que a respiração se torne tranquila, que o coração bata calmamente, que os conteúdos digestivos circulem sem problema.

A arteriosclerose, por exemplo, estaria mais diretamente ligada às necessidades do combate pela vida nas cidades ocidentais do que a irregularidades alimentares ou ao uso de gorduras saturadas  (sem negar a importância relativa desses fatores).

As técnicas de relaxamento têm por objetivo permitir e ativar o jogo natural desse sistema protetor contra a superdosagem de estimulações. Perante esses fatos e muitos outros, pode-se perguntar se o corpo influencia o psíquico (eficácia do relaxamento) ou se o psíquico influi no somático.

Tensão muscular e repressão são uma única  e mesma coisa. O corpo é uma leitura do psiquismo por observação ‘externa’, e uma leitura pela introspecção com sua tradução no discurso (o ‘psíquico’). Através desse ‘corpo’ e de suas relações com o mundo, vai construindo uma história de vida pessoal, repleta de significados, o que faz com que deixe de possuir apenas um corpo - enquanto conjunto de órgãos e membros - e ganhe uma identidade, uma consciência que vai se diferenciar conforme suas vivências. Portanto, quando se fala em identidade, existe um conjunto de fatores, que podem ser observados por sua forma, movimento, expressão, postura, estética e principalmente, pelos significados e valores a eles atribuídos.

Ao modelo parental das atitudes, dos hábitos posturais, acrescenta -se um modelo social e coletivo do homem ou da mulher ‘do momento’, cuja estética nada tem a ver com uma boa qualidade de estrutura. Esses modelos são facilmente incorporados pelas crianças. (A expressão “Tal pai, tal filho” não se refere somente à hereditariedade genética.)

Os móveis, as roupas (os sapatos em especial), os automóveis, o local de trabalho e, sobretudo, a ausência de educação da consciência do corpo e da contrassexualidade, ajudam a instituir o homem "normal", ou seja, médio. Pois então é "normal" ser enrijecido, dolorido, sofrer de mil pequenos problemas que nem sequer serão mencio­nados ao médico, pois sabe-se que ele também é uma vítima deles! O indivíduo não consegue transmitir a outrem mais do que seu próprio nível pessoal de conhecimento ou de consciência.

A sabedoria dos povos registou, em expressões geralmente saborosas, a estreita relação entre emoções e atitudes. Algumas pessoas assemelham-­se a caricaturas de uma emoção (medo, cólera, timidez, arrogância) que as marque particularmente. Note-se que tais pessoas raramente estão conscientes dessa situação. Conscientes, elas seriam menos vítimas ...

A personalidade sempre sofreu influências dessas mudanças, pois o homem nasce como um corpo inacabado, que vai se construindo de significados em sua vivência parental e sócio-histórica. Essas transformações podem acontecer, tanto através de elementos externos, como clima, geografia, quanto por pré-disposições genéticas, e também – certamente - pelo processo de envelhecimento natural. Porém, as principais mudanças se dão pelas atribuições culturais de onde esse corpo está inserido. Seja através dos valores, das questões físicas ou da possibilidade de liberdade ou dominação onde esse corpo se insere.

Normalmente, conforme os diferentes papéis sociais que desempenhamos na vida, seja de pai, filho, marido, médico, desportista, dentre tantos, existem expetativas criadas pela sociedade com relação a comportamentos, gestos, postura, estética, enfim, ao conjunto de atributos para cada um desses papéis, que, inclusive, podem variar de cultura para cultura; por exemplo, são diferenciadas as expectativas que se tem sobre o comportamento e aparência de uma mulher portuguesa e de outra do Afeganistão.

Essa falta de consciência do corpo, essa ausência de reconhecimento de novas ou velhas sensações, a dificuldade em perceber a diferença do tom de voz das pessoas que nos cercam ou de nós mesmos, os gestos, olhares, expressões fazem com que, cada vez mais, deixemos de nos dar conta de nossos desejos e temores, de nossas sensações, emoções, enfim, de nossa percepção de mundo.

Negar nossa personalidade é negar a vida, é negar os aspectos mais matriarcais e inconscientes!

Trata-se de movimentos pré-determinados, rígidos e estereotipados. Poderíamos fazer uma analogia com uma fábrica de corpos submissos e exercitados, denominados por Foucault como corpos dóceis. Desta forma, ocorre uma massificação dos corpos, onde a corporeidade (corpo e identidade) dá lugar a uma soma de corpos, todos se comportam da mesma maneira, no mesmo passo. Sentam-se do mesmo modo, andam da mesma forma e, consequentemente acabam sendo levados a pensar da forma idêntica. E, assim, cria-se uma relação mecânica com o próprio corpo e o corpo dos outros, onde permanecer rígido fisicamente implica em rigidez mental, pois ainda somos frutos da era cartesiana de ser.

Para que possamos criar, inventar, desenvolver a nossa totalidade, de maneira equilibrada, precisamos necessariamente conhecer, ouvir, e exercitar de forma livre e criativa as possibilidades de nossa corporeidade. O fundamental é que possa realizar atividades corporais que envolvam outros tipos de expressões, desde alongamentos, atividades recreativas, expressão corporal, dança, teatro, jogos cooperativos, enfim, atividades que agucem nossos sentidos, que possibilitem o auto e hetero conhecimento corporal, o exercício da criatividade e trabalho coletivo. Precisamos buscar corpos saudáveis, que se permitam ouvir suas queixas dolorosas e seus desejos, e, principalmente expressá-los.

Através desse exercitar contínuo, dessa atenção voltada para o corpo, iremos gradualmente substituir o corpo que é manipulado, modelado, treinado, tornado hábil, por um corpo capaz de criar, vibrar, sentir dor e prazer. Um corpo que desmecanize seus sentidos, e que consiga – literalmente – ter mais jogo de cintura para perceber, refletir e interferir na comunidade onde atua. Um corpo que seja liberto para viver intensamente e sem culpa, de sentidos que permeiam o mundo e nos alimentam a conhecer a VIDA!

Ser menos “cerebral” e mais corporal é praticamente uma mudança paradigmática de nossas posturas, daqui emerge o conceito de inteligência emocional, o “fazer nada fazendo tudo”, um re-atualizar nossas origens matriarcais arquetípicas. Sempre escutei (e comprovei com a experiência) que quando se está relaxado é justamente quando ocorre as melhores ideias e soluções para nossa vida, em outras palavras, para existir o pensamento e a ideia é preciso antes ser capaz de fantasiar, sonhar, imaginar. Como disse uma vez Einstein, “a imaginação é mais importante que o pensamento”. Portanto a palavra de ordem hoje é relaxar!

Existem diferentes meios naturais de se obter um maior ou menor relaxamento. Por exemplo, o exercício (desportivo ou 'amoroso') é seguido de um estado de relaxamento, se a pessoa se mantiver quieta imediatamente depois (este procedimento é o da "Meditação Dinâmica"). Caminhar descalço realiza nas zonas reflexas do pé uma massagem que favorece a descontração; ela também é favorecida por uma alimentação simples e frugal, pelo nudismo ao sol, pelo bocejar, espreguiçar, etc.

Penso que os fatos acima bastarão para convencer o leitor da vantagem (e possivelmente da economia) que há em aprender uma técnica de relaxamento antes de empreender alguma forma de terapia mais complexa, mais longa e talvez mais aleatória (em sua eficácia com relação aos sintomas), como por exemplo a psicanálise, a psicoterapia profunda de Jung, a terapia não diretiva de C. Rogers ou a Gestalt terapia.

O primeiro interesse dessa atitude é evitar que cerca de 50% dos pacientes iniciem uma terapia duvidosa (ou pior, passem a depender para sempre de medicamentos). O segundo interesse (se o cliente persistir em seu pedido de uma terapia profunda de longa duração) será torná-la incomparavelmente mais eficaz, com muito menos crises de angústia; o relaxamento lubrifica o motor da terapia.

Portanto, antes de iniciarmos qualquer atividade humana é fundamental aprender a relaxar, integrar os aspectos mais inconscientes da psique, mergulhar num estado de conforto materno (outro dia em frente a sala de consulta havia uma mãe balançando o carrinho de seu bebé enquanto cantava uma canção de ninar, era realmente um clima de entrega, conforto, prazer, relaxamento). Afinal lá é que está a origem e a criatividade de nossos maiores esforços humanos, em suma, aprender a escutar a voz de sua alma, e escutar a voz do outro e deixar-se embalar por essa música e, perceber depois o que é que nasce.

Este processo  de relaxamento impede de fragmentar o corpo, cujas tensões são comparáveis a um novelo de lã emaranhada. Não basta puxar um fio aqui e outro ali. Agindo assim, per­cebe-se que o novelo inteiro reage. O mesmo acontece com o corpo. Uma alteração em um local provoca, em maior ou menor grau, alterações em todos os outros. Isto é particularmente perceptível na fala, no prazer e na respiração. Normalmente todo o corpo respira; e as zonas que não o fazem são zonas "que precisam ser trabalhadas", porque estão muito tensas ou muito frouxas. O trabalho de tomada de consciência do corpo e a libe­ração progressiva das tensões conduz a maior estabilidade da sensação de unidade pessoal.

Um exemplo da técnica de relaxamento:

Partindo desta definição, deve-se deixar que o indivíduo escolha portanto a posição mais normatizada em seu funcionamento e, em seguida, dá-se início o exercício, onde se propõe a fórmula: "Estou inteiramente calmo”.

Para algumas pessoas, essa é a primeira surpresa, a primeira dificuldade e mesmo a primeira revolta: "Quando digo isso, não me sinto calmo e isso não me acalma". Deve-se explicar que esta forma não pretende ser eficaz como uma poção mágica, mas deve ser encarada como uma placa indicadora em uma estrada. A direção Braga escrita numa placa não significa que já chegamos lá; indica a direção a tomar.

A seguir a fórmula utilizada é: "O meu corpo está total­mente pesado". Deve ser pronunciada interiormente, apenas uma vez , agora meu corpo está totalmente quente. A pessoa poderá simultaneamente recorrer ao auxílio da imaginação, visualizando seu corpo aquecido.

Visualiza-se o coração e sentem-se seus batimentos, ou o batimento do sangue em qualquer lugar do corpo. Diz -se interiormente: "Meu coração está batendo calmamente."

Também faz o indivíduo sentir -se respirando, sem agir sobre o ritmo ou a intensidade da respiração. Pronuncia -se interiormente: "Minha respi­ração está totalmente calma, longa e profunda.”

Imagina -se uma sensação de calor no abdómen (umbigo) e diz: “Meu abdómen está irradiando um suave calor", a seguir sugestiona:"Minha testa está agradavelmente fresca". Imagina -se o frescor que a testa sente quando uma suave brisa sopra no verão. 

Ao indivíduo que consegue relaxar imediatamente, pede-se que olhe para o alto e para o meio, fixando o centro da testa , a fim de favorecer agora um relaxamento mais profundo. O sujeito então deve deixar surgir em sua imaginação uma imagem "qualquer" (descoberta da própria imagem), aqui pode-se imaginar uma janela que se abre e emite uma imagem.

Naturalmente atinge-se um relaxamento mais profundo e sutilmente orienta-se a mudança para a posição do corpo mais fetal, e imagina-se numa espécie de bolha ou envoltório, que flutua e pode levar para onde quiser. A seguir, imagina que a bolha pousa na terra, se estoura e ganha-se uma varinha mágica com o qual pode-se fazer o que quiser, transformar o que desejar.


Por fim, a imagem é de um espelho mágico onde poderá se ver e imaginar o que quiser.

Encerra-se esta etapa sugerindo ao participante que se encontre numa praia, e imagine desde o nascer até o por-do-sol!



























[1] Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde. Especialista em Psicologia Analítica. Psicólogo clínico no Aces Alto Ave.

Mensagens populares deste blogue

  SAPATO João Carlos Vaz Furtado O sapato projeta-se ao chão de tal forma que raramente olhamos para os nossos pés quando caminhamos, raramente nos preocupamos com os aspetos mais inferiores e inconscientes da nossa personalidade e, como esta se dinamiza no decorrer da jornada. Olhar para os sapatos (e aqui incluem os pés) é também olhar para cima e o cérebro, melhor, para a totalidade da pessoa. Para o analista junguiano calçar o sapato do outro é perceber onde ele aperta, onde afrouxa ou ainda como se sente neste sapato. Por respeito ao outro é ‘começar por baixo’, perceber como ele chegou até a consulta e qual foi o seu caminho. Lembro de um trecho de uma das crónicas de Rubem Alves do menino engraxate que conhecia seus clientes apenas de olhar para os sapatos, nem sequer era preciso emitir uma palavra para compreender exatamente quais eram as suas necessidades. Assim é também a mira do analista junguiano, ver aquilo que o outro realmente é. E então o cliente nos diz que agora se se
Psicologia ‘Sem Pressa’! João Carlos Vaz Furtado 21-.12-2018 A psicoterapia é um investimento de tempo e energia significativos, que colide com a nossa contemporaneidade baseada na brevidade e realidade virtual. Há um aumento considerável das queixas psicológicas, que por sua vez tentam se ‘encaixar’ no mercado através de tratamentos rápidos e acessíveis economicamente. De modo geral, as pessoas estão em busca da solução rápida e ‘mágica’ que não sujeite à maturidade e a intimidade interpessoal. Logo nos primeiros contatos é comum este género de perguntas: “quanto tempo dura?”, “Quanto custa?”, “Quando estarei melhor?”. Sinto que a psicoterapia é um produto comerciável e que depende de todo tipo de publicidade para ser negociável. Aliás, este dilema também é cada vez mais presente nos serviços de psicologia clínica do Estado. Como a lista de espera, a pressão pela quantidade estatística e a imposição de um processo psicoterapêutico breve, senão pontual… Evidentemente que nem
  Eu perguntei para ver se esquecia E esqueceste... Eu ouvi aquela expressão tão querida A que estava habituado ao fim do dia Eu vi aquele gesto singular Naqueles olhos bondosos Eu ouvi aquela música familiar Seus passos rasos ao chegar a casa Eu caminhei a sua frente Por trás tu me seguiste Eu fui até ao quarto escondido Encontrei seus livros secretos Eu abri suas gavetas A procura de segredos Eu desejei esquecer as palavras ditas E recordei das não ditas Hoje, especialmente agora Soube que o silêncio é precioso Estar ao seu lado E esquecer um pouco quem fomos Quem seremos. João C.V. Furtado 02-07-2021