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Cooperação e Bem-estar!
João Carlos Vaz Furtado

Em todo processo racional a base é sempre emocional. O que move meu comportamento, minha decisão é o que eu gosto, desejo, tenho medo, rejeito…

A linguagem permite-nos refletir, compreender e tomar consciência de nossas ações e decisões, consequentemente organizar nossas emoções de forma a validá-la ou não.

O erro, primariamente é inconsciente porque a intenção é válida, a motivação por determinada ação a priori é ‘inocente’. Só a partir da consciência de suas consequências é que posso refletir linguisticamente sobre a base emocional que originou tal ação, e assim modifica-la futuramente.

Para isso há que valorizar o princípio da comunidade cooperativa, a plasticidade da construção de nossa identidade, pois só através da participação construtiva é que posso aceitar inteligentemente a mudança.

Este princípio cooperativo, gerado no diálogo, é um acordo de aceitação baseado na mutualidade e não na obediência. A plasticidade comportamental aceita a inteligência do outro e está disposto a ouvi-lo para aprender com ele.

Todavia, a pressão social baseada no modelo patriarcal favorece a projeção da nossa identidade de forma mentirosa, pois na maioria das vezes o que é estimulado é a ‘fachada’, a ‘maquiagem’, ou na linguagem atual o Photoshop. O fundamento desta imagem projeta o que eu quero que o outro veja, não aquilo o que eu realmente sou, o que penso e sinto!

As ‘terapias’ que se fundamentam no princípio desta imagem projetada podem ser encontradas hoje em qualquer loja no centro comercial, na internet ou mesmo até em casa (pois a qualquer momento seu telefone irá tocar com a promessa de um produto que irá trazer mais felicidade). Toda estas mensagens dizem basicamente o seguinte: a força é tua, o poder é teu, tu podes ser feliz, tu és responsável pela sua felicidade!

De certa forma, em parte tu és responsável sim, desde que a legitimidade de sua felicidade esteja em cooperação com a do outro, se, ao contrário sua felicidade entra em colisão com o sofrimento do outro, tenho serias dúvidas para que caminho pode nos levar essa tal felicidade.

Provavelmente, e o tempo dirá, o bem-estar individual só faz sentido no bem-estar coletivo.

Como psicoterapeuta, minha grande aprendizagem é perceber que a terapia é um processo de diálogo, de colaboração, de fazer coisas juntas. É principalmente, legitimar a identidade do outro, através de um diálogo de atenção e respeito.

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