SAPATO João Carlos Vaz Furtado O sapato projeta-se ao chão de tal forma que raramente olhamos para os nossos pés quando caminhamos, raramente nos preocupamos com os aspetos mais inferiores e inconscientes da nossa personalidade e, como esta se dinamiza no decorrer da jornada. Olhar para os sapatos (e aqui incluem os pés) é também olhar para cima e o cérebro, melhor, para a totalidade da pessoa. Para o analista junguiano calçar o sapato do outro é perceber onde ele aperta, onde afrouxa ou ainda como se sente neste sapato. Por respeito ao outro é ‘começar por baixo’, perceber como ele chegou até a consulta e qual foi o seu caminho. Lembro de um trecho de uma das crónicas de Rubem Alves do menino engraxate que conhecia seus clientes apenas de olhar para os sapatos, nem sequer era preciso emitir uma palavra para compreender exatamente quais eram as suas necessidades. Assim é também a mira do analista junguiano, ver aquilo que o outro realmente é. E então o cliente nos diz que agora se se
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